quinta-feira, 21 de agosto de 2008

A vida... vista de dentro do Pousal


O PRIMEIRO PASSO
Qualquer caminhada inicia-se com um pequeno passo… mas quem não necessita de um empurrãozinho para começar?
Nesta casa onde moram imensas pessoas, onde cada uma delas encerra diversos pensamentos e possui varias emoções: será que elas passam pela vida ou é a vida que passa por elas? Não, elas moram nesta vida, que infelizmente é comandada pelo egoísmo, pela ignorância e pelo interesse.
Algumas aguardam um pouco de compreensão, outros exigem toda a atenção e outros esperam unicamente um sorriso ou uma palavra amiga. Mas no fundo o desejo é quase sempre o mesmo: só querem mostrar que afinal são seres humanos.
Pois em todas as idades se aprende e se ensina, seja qual for o objectivo, o de aperfeiçoar o caminho da vida, ou simplesmente para contemplar as maravilhosas ofertas do destino.
Ninguém é igual a ninguém, todos nós somos seres únicos, com as nossas virtudes, defeitos e segredos. Sejam eles grandes ou pequenos, bons ou menos bons, mas sempre com a necessidade de demonstrar, o sentido do amor.
É sempre, no caminho que o destino nos estende, a cada passo que damos, que aprendemos e encontramos algo novo. Onde essa novidade nos desperta e nos faz perceber que o que nos comanda são os sentimentos…



Fredy

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Im-possível


Está quase na hora do verdadeiro chut'o'IM!!!

Um chuto que terá toda a força, determinação e vontade, capaz de afastar barreiras e transformar a diferença em riqueza.

Um coração aberto, disposto a dar e receber, é o pé para o chuto final! :) Força!!
Estou convosco!!!!

Uma forte canhota :)
Fico à espera de noticias fresquinhas aqui no blog.

domingo, 20 de julho de 2008

Actividades para o "Ser Parte"

A. Actividades para todos os utentes

1. "Bailarico";
2. Dar os "bons dias" e "boas noites diariamente";
3. Churrascada.

B. Actividades para utentes com boa mobilidade

1. Passeios pelo jardim - também para os de cadeiras de rodas que o queiram -;
2. Gincana de jogos tradicionais;
3. Bowling, malha e similares.

C. Actividades para utentes sem mobilidade

1. Conversas com os utentes acamados .

D. Actividades para "utentes de ATL"
1. Quadros de nós;
2. Pinturas;
3. Gincana de artes plásticas;
4. Jogos de tabuleiro e similares;
5. Tarde de cozinha;
6. Leituras/respresentações de contos;
7. "Fogo de Conselho": gritos, danças, cantigas e peças feitas por nós.

E. Outros

1. Oferecer lenços e anilhas aos utentes;
2. Participação nas actividades calendarizadas;
3. Tardes de quarta-feira de folga para nós.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

O Escafandro e a Borboleta


Na visita à casa do Pousal, o Sr. Vítor cheio de entusiasmo, desmitificou este lar e apresentou-o como uma casa muito acolhedora cheia de pessoas especiais que vale a pena conhecer.
Em algum ponto da nossa conversa, quando nos tentava explicar quão especial pode ser cada utente do lar, falou-nos de um livro de poemas escrito pelo Vítor e pela Freddy (ambos utentes do lar), e de outro, O Escafandro e a Borboleta, escrito por Jean-Dominique Bauby que foi atingido por um "locked-in-syndrom", ou seja, estado caracterizado por um total desempenho mental mas sem movimentos fisicos (semelhante ao Vítor). Disse-nos ser o livro ideal para percebermos o que podemos encontrar no Pousal.

À medida que fui lendo, foram inúmeras as lições que aprendi...era crescente a minha admiração pelo autor e a minha perplexidade perante pequenos acontecimentos, que poderiam ser encarados como um grande milagre ou uma grande catástrofe.

Li o parágrafo de apresentação na capa do livro que diz:
"Jean-Dominique Bauby, nascido em 1952, pai de dois filhos, era redactor-chefe da revista francesa Elle quando foi vítima de um locked-in syndrome, uma doença rara, que o deixou lúcido intelectualmente, mas paralisado por completo, só podendo respirar e comer por meios artificiais e mover o olho esquerdo.

Com este olho piscava uma vez para dizer sim e duas vezes para dizer não. Com ele chamava também a atenção do seu visitante para as letras do alfabeto, formando palavras, frases, páginas inteiras. Assim escreveu este livro: todas as manhãs, durante semanas, decorou as suas páginas antes de ditá-las, depois de as ter corrigido mentalmente durante a noite."

E palavra após palavra fui percebendo realmente o esforço feito por este homem para nos apresentar o interior do seu escafandro, mas, principalmente para nos dar a oportunidade de perceber que o escafandro não é oco...há lá uma borboleta
...uma bela e admirável borboleta cheia de vida.

É um livro precioso!!Uma obra prima com uma força incrível.
Fiquei ainda com mais vontade de ir para o Pousal.

Não deixem de ler......
(também existe em filme)

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Visita ao Pousal

No encontro aberto do cenáculo nacional, realizado nos dias 9, 10 e 11 de Maio de 2008, na Buraca, a Equipa Bengala deu mais um passo para a realização do seu projecto que tem como nome “Ser Parte”. A acção realizada consistiu na visita à Casa do Pousal na Malveira, com o intuito de se definir mais concretamente como “Ser Parte”.

Após um momento inicial de partilha de informação, o Sr. Vítor, que nos recebeu, conduziu-nos numa visita pelo lar. Se até então fora a nossa imaginação a orientar o projecto, aquele era o momento de “choque” com a realidade, o momento em que deixávamos de imaginar como seriam os utentes do lar, mas em que realmente percebíamos a “profundidade” das deficiências que habitavam em cada um.

Encontramos pessoas deficientes que espalhavam boa disposição, que nos recebiam com a maior alegria e outras que simplesmente ficavam indiferentes. Algumas estavam completamente aptas fisicamente, enquanto outras estavam presas a uma cadeira de rodas ou uma cama. Com algumas era possível estabelecer um diálogo, enquanto para outras o sorriso já era o muito que nos podiam dar.
Todos vivem num ambiente simpático, uma casa grande com boas condições que satisfazem as suas necessidades, rodeadas de profissionais que para além de trabalharem na ocupação do tempo livre de uma forma didáctica e a zelar pela saúde e bem-estar, dão-se de coração para que a qualidade de vida seja a melhor possível.

Era emocionante a cumplicidade que se sentia entre os profissionais e os utentes, parecia que todas as barreiras já tinham sido destruídas com o contacto permanente, que fez com que conseguíssem ver o que está para lá de cada deficiência e aceitassem cada um com as suas limitações.

Foi ainda mais emocionante sentir que podíamos “Ser Parte” de tudo aquilo. Sentir que teremos a oportunidade de contribuir para que cada dia seja mais fácil de ser vivido, ou que o seja ainda melhor, e por outro lado, aprender muito com o que cada um tem para dar, mas principalmente aprender a verdadeiramente aceitar, respeitar e conviver com a diferença.


Por muita vontade que se tenha em transmitir em palavras o que é o Pousal, é impossível fazê-lo, pois a riqueza e a diversidade são tal, que apenas usando os cinco sentidos se consegue perceber um pouco deste mundo.


domingo, 18 de maio de 2008

a nossa ida ao pousal


10.05.2008

segunda-feira, 10 de março de 2008

Pousal

O Pousal é um “Lar para Deficientes e para Idosos”, localizado na Malveira, concelho de Mafra.

Desde 15 de Agosto de 1964 que lá coabitam as doenças genéticas mais terríveis com as deficiências mais e menos profundas. Da esclerose múltipla a síndromas com nomes impronunciáveis. E coabitam as idades todas, as crianças e os velhos, os que vivem numa região crepuscular onde anda desaparecida a face de Deus, onde parece desumano aquilo que não deixa de ser profundamente humano.

"Num lar de deficientes profundos ouvem-se muitos gritos, choro, objectos arrastados, sussurros, gemidos, grunhidos, não se ouve o riso. A gargalhada do Vítor é silenciosa, aprendeu a rir com os olhos. A doença degenerativa que lhe aprisionou o corpo e lhe paralisou todos os músculos excepto aquele no pescoço com que ele acciona o computador que a PT lhe ofereceu, com o sistema especial The Grid (parecido, creio, com o do físico Stephen Hawking), não lhe tocou na cabeça e vingou-se em tudo o resto. O cérebro lá está, activo, vigilante, inteligente, emotivo, o corpo é que foi deixando de obedecer. De modo que ele e a Fredy comunicam pelo velho sistema por ela inventado, filas de letras do alfabeto coladas no tabuleiro da cadeira. Ela diz, com a sua voz entaramelada (a deficiência dela, embora a paralise, não lhe retirou a fala nem o uso dos braços e das mãos), um, e vai soletrando as letras da fila número um, A, B, C, D, até o Vítor, com um sinal imperceptível dos olhos e um ruído da laringe (o Vítor não pode falar), assinalar a letra. E assim, lentamente, pacientemente, constroem um diálogo. Demora tempo, tudo demora tempo, e a Fredy recomeça quando não consegue identificar a palavra. Para abreviar, completamos a frase, e se não acertamos, voltamos atrás, caminhando sobre os nossos passos naquele discurso a conta-gotas. As frases do Vítor são sempre acertadas e cheias de humor.A televisão faz-lhe companhia e a RTP2 é a sua favorita. Adorou o «Six Feet Under», eu aviso-o (ele ouve bem) que vem aí o «Curb Your Enthusiasm», do Larry David, o homem que inventou a série «Seinfeld». Esquecemo-nos como a televisão pode ser a única companhia, e a boa companhia, embora no caso dele a companhia seja a Fredy e as pessoas do Lar do Pousal, gente heróica que atravessa o inferno do sofrimento humano. Freiras, terapeutas, professoras, empregadas, juntos fazem daquela casa sustentada pela Santa Casa da Misericórdia um verdadeiro lar."

" Tudo o que aborrece na vida de todos os dias não constitui para os deficientes profundos um problema, ali não há a vida de todos os dias, há a vida de um dia de cada vez."

"A verdade é que uma visita ao Pousal, na Malveira, nos deixa diferentes por dentro."

Clara Ferreira Alves, Expresso, 23-12-2005



Nós vamos SER PARTE, temos muitos "chutos" para dar!!!!